10º Pense Brasil Virtual debateu o papel das mídias na democracia
A fim de promover a reflexão sobre uma peça tão fundamental na vida, na política, nos costumes e nos humores da sociedade, o 10º Pense Brasil Virtual, realizado pela Fundação João Mangabeira (FJM), do Partido Socialista Brasileiro (PSB), teve como tema as “Mídias e comunicação como vetores de governança e cidadania: regulação e socialização”. O evento virtual do último dia 29 de junho reuniu o jornalista Luis Nassif, a coordenadora do Intervozes, Coletivo Brasil de Comunicação Social, Bia Barbosa e Alessandro Molon, líder da bancada do PSB na Câmara dos Deputados.
O mediador do debate e presidente da FJM, Ricardo Coutinho, iniciou a conferência ao lembrar que, particularmente de 2013 para cá, o Brasil parece que entrou em uma catarse. “Tenho convicção de que o papel da internet nisso tudo foi um papel preponderante. Sem as mídias sociais – e por mais força que a Rede Globo tenha, por mais força que a mídia tradicional tivesse -, não haveria o que esse país assistiu até a eleição de Jair Bolsonaro como presidente do Brasil, apontou Coutinho.
“A virada do milênio foi marcada por crises, saltos e processos ainda mal compreendidos. E dois deles chamam a atenção pelos impactos profundos que causam nas sociedades: a revolução tecnológica digital e o que se convencionou chamar de ‘era da pós verdade”, continuou o mediador, ao pedir que os convidados fizessem um balanço crítico dessa nova circunstância histórica que deu ainda mais protagonismo e centralidade às mídias e à comunicação.
O jornalista Luis Nassif assinala que a emergência de novas tecnologias faz acontecer o mesmo que ocorreu nos anos 10 e 20 do século passado com o advento do rádio. “O mercado fica desorganizado, e a autoridade e influência que tinha alguém que escrevia nos jornais, por exemplo, encontra concorrentes”, diz. O jornalista lembra que as novas tecnologias de comunicação provocam implicações sociais e políticas das mais variadas. “Podemos ainda lembrar que todas as indústrias que tinham dificuldades com regulações, como armas, jogos e lixo – aqui lembro da máfia internacional que utiliza países com leis mais afrouxadas para depositar lixo de países mais ricos -, começam a descobrir essa nova tecnologia das redes sociais para influenciar eleições, e, para contornar suas dificuldades com legislações por todos os inconvenientes que promovem à saúde pública e sociedade, passam a bancar o avanço da ultradireita”.
Bia Barbosa, coordenadora do Coletivo Intervozes, lembrou os pontos positivos das novas tecnologias antes de falar sobre os novos monopólios digitais e apontar que ainda não pudemos superar um desafio do século passado, que é o de dar vozes aos oprimidos e à diversidade. “Ainda não conseguimos ter um sistema midiático plural e diverso que possa abarcar e visibilizar todas as opiniões, raças, etnias, regiões e classes sociais, por exemplo”, observou Bia. “Agora temos novos desafios com os chamados direitos digitais, e se estamos aqui discutindo a revolução digital, temos que lembrar que essa revolução ainda não aconteceu para cerca de 30% da população brasileira, que não fazem parte desse universo porque simplesmente não são conectados à internet e não podem utilizar os benefícios que essa tecnologia trouxe à sociedade contemporânea”.
O deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), por sua vez, lembrou que com a pandeia houve uma mudança na confiabilidade dos meios de informação, e os meios de comunicação tradicionais voltaram a ser a principal fonte de informação dos brasileiros. “É uma boa notícia porque, com todos os problemas que a mídia tradicional tem, vimos o resultado da maior fonte passar a ser por meio das redes sociais, principalmente pelo whatsapp”. Em seguida, Molon apontou que as campanhas de desinformação são exatamente iguais. “O que vimos no Brasil foi o que foi feito no leste europeu, na Inglaterra e nos EUA: o mesmo tipo de abordagem emocional, o mesmo tipo de incitação do ódio, de xenofobia, de desconfiança. Esse é o novo tipo de guerra, e pensar na proteção dos Estados-nação passa por isso, por impedir que um país desestabilize o outro e que se crie o caos dentro de um país que você quer desorganizar”, completa.
Para falar dos desafios da regulação das mídias, a coordenadora do Coletivo Brasil de Comunicação Social, Bia Barbosa, ressaltou que precisamos enfrentar esses problemas novos que a internet vêm impondo por conta do uso dos nossos dados pessoais e fazer o debate em torno da desinformação, tendo em vista o dano real que ela traz para a nossa democracia. “Porém, não podemos fazer isso de maneira açodada, achando que com uma canetada o Congresso Nacional vai resolver esse problema. Não podemos achar que para neutralizar o chamado gabinete do ódio e grupos maliciosos que operam na rede a gente pode adotar medidas que coloquem em risco o funcionamento da internet no país”.
“A tecnologia é uma ferramenta e é usada tanto para informar quanto para desinformar”, opina o deputado Alessandro Molon. A ferramenta em si não é boa e nem ruim, depende da forma como ela é utilizada, e a internet é assim. Ela pode ser usada para expandir conhecimentos, generosidade, solidariedade, juntar as pessoas, ou pode ser usada para gerar preconceitos, atacar a ciência, espalhar mentiras, suspeitas e desconfianças. Infelizmente o funcionamento dos algoritmos acho que ajuda mais isso do que o contrário.
Luis Nassif lembra que a democracia começou a ser desmontada com fake news, julgamentos incorretos e escândalos em cima de pequenas questões administrativas. “Foi-se desmontando todo um sistema de avaliação e informação que é a base da democracia. Quando ministros do supremo começam a dar interpretações da Constituição de acordo com viés político – começam a dizer que a Constituição é dinâmica, que precisa-se ouvir a voz das ruas – cria-se todo um processo de subversão das instituições que estavam desmontadas e caídas, quando vem essa invasão de fake news. E a grande discussão, que eu acho que é o tema central, é como regular isso. Se por um lado a internet permite levantar informações que a mídia tradicional escondia, como no caso da Lava Jato, por outro lado ela é meio de propagação de fake news“, completa.
Ricardo Coutinho lembra que principalmente no ano de 2019 eram espalhados vário tipos de fake news na Paraíba. “Uma mais maluca que a outra”, conta. “E é uma estratégia em que elas vão se juntando para convencimento das pessoas. Entrei com várias ações para me salvaguardar e ainda não há nenhuma julgada. Por isso penso que as fake news devem ser combatidas, e com agilidade”, concluiu o presidente da FJM.