Publicado 4 de dezembro de 2020 11:37. última modificação 4 de dezembro de 2020 11:37.

OUVIR
Notícias

Webinário internacional realizado pela Fundação João Mangabeira propõe análise da América Latina

Com participações de ilustres pensadores do Brasil, da América Latina e Europa, o Webinário “As crises da democracia e as respostas do campo progressista na América Latina” teve início na manhã do dia 3 de dezembro.

O evento online foi organizado pela Fundação João Mangabeira (FJM), do Partido Socialista Brasileiro (PSB), para debater aspectos teóricos e pragmáticos da democracia na América Latina e como o campo progressista deve se articular na defesa dos valores democráticos.

Durante a abertura do evento, o Presidente da Fundação João Mangabeira, Ricardo Coutinho, lembrou que a luta pela liberdade e pela democracia é uma só, e que a situação de luta por que passam os países da América Latina pode trazer um pensamento que nos faça convergir a algo muito maior e muito mais amplo do que os elementos que nos separam. “O Brasil muitas vezes deixa de lado a condição de ser parte da América Latina para tentar fazer parte de outros universos, em função do pensamento de nossa burguesia. Entretanto, precisamos entender nossa região, nos aprofundar com o que nos une, e, ao mesmo tempo, melhorar a vida de nossos povos”, disse Coutinho.

O Deputado Federal Alessandro Molon concordou que o brasileiro tem dificuldade de se reconhecer latino americano e isso custou muito caro ao nosso país. “É preciso prestar atenção às graves crises que os nossos vizinhos atravessam. Apesar de ser compreensível a dificuldade de acompanhar a política dos países de nossa região, devemos fazer isso, porque é desse mesmo jogo que fazemos parte”, explicou Molon, que também é Secretário de Relações Internacionais do PSB.

Para Carlos Siqueira, Presidente do Partido Socialista Brasileiro, é imperativo que as forças progressistas se unam para enfrentar a extrema-direita e o conservadorismo na região. “Os desafios para o Brasil e para a esquerda, assim como os de todos os países da América Latina, são cumprir nossas responsabilidades históricas e retomar a plenitude democrática na região”, concluiu Siqueira.

A conferência de abertura do webinário, com o tema “Ciclos políticos, económicos y sociales em América Latina”, teve mediação do professor da Universidade de São Paulo, Walter Iglecias, e participações da docente de la Universidad de La Habana, Maria Isabel Dominguez e do docente de la Universidade de La Republica, Gerardo Caetano.

“O progressismo não pode ter apenas projetos de abundância e sociais, pois com isso adquire a fragilidade de não poder enfrentar grandes mudanças de ciclos econômicos. Além disso, precisamos afirmar mais uma vez que não há progressismo de um só país. Precisamos trabalhar com projetos de cadeias de progressismos na América Latina, disse Caetano, professor da Universidad de La Republica, no Uruguai.

Maria Isabel Dominguez, professora da Universidad de La Habana, em Cuba, alerta que a noção de ciclo é justamente o que legitima essa alternância de poder. “A possível resposta para frear esses ciclos de retomada do poder pela direita e extrema-direita requer integração regional frente ao capital transnacional”, pronunciou a professora.

Karina Delfino Mussa, Vicepresidenta del Partido Socialista Chileno, e Rute Alonso, da União de Mulheres de São Paulo e coordenadora do curso de Promotoras Legais Populares, foram as duas participantes do painel 1 do webinário. Com o tema “Democracia en crisis: reinventar la Política y la Acción Política”, a mediação ficou a cargo do diretor de organização da FJM, Fabio Maia.

A vice presidenta do Partido Socialista Chileno alertou sobre a desconexão das esquerdas no sistema político atual. “Essa desconexão faz com que exista uma crise na política, e o que vivenciamos atualmente é um dos principais desafios do campo progressista. Um deles é o clássico desafio de lutar contra as desigualdades, e agora precisamos também reivindicar nosso espaço na política contemporânea”.

Rute Alonso ressaltou que a nossa corrida enquanto esquerda é conseguir incutir na população a perspectiva de que a saída é coletiva. “Precisamos introjetar o que são as políticas públicas. Enquanto as pessoas não entenderem o que é isso, continuarão achando que o SUS é um sistema inútil, por exemplo”, explicou a coordenadora do curso de Promotoras Legais Populares.

No painel 2, sobre “Democracia y Derechos Humanos”, o mediador Wagner Iglecias, da Universidade de São Paulo conversou com Idilio Mendez Grimaldi, Jornalista e escritor; Carolina Jiménez, professora da Universidad Nacional de Colombia; Ramon Torres Galarza, Diplomata e poeta; e Jean Jacques Kourliandsky, diretor do Observatorio América Latina de la Fondation Jean-Jaurès.

O jornalista e escritor paraguaio Idilio Mendez Grimaldi iniciou o debate ao apontar que quanto menor a democracia de um país, menos direitos humanos existem. “Os direitos humanos estão intrinsecamente ligados à soberania política, econômica e militar. Sem isso, não há como proteger os direitos da população”, expressou Grimaldi.

“As políticas fascistas estão no centro do debate na América Latina, que inclui vários grupos e governos com essa inclinação”, disse Carolina Jiménez. “E entre as ações políticas, econômicas e militares desses governos, estão os cortes de direitos que aprofundam as mazelas da classe trabalhadora”, expôs a professora da Universidad Nacional de Colombia.

“É necessário pensar em uma nova ordem cuja centralidade seja a vida. Os princípios dos direitos humanos estão atualmente condenados à retórica. Por outro lado, a globalização neoliberal consagrou a supremacia dos direitos do capital na totalidade do ordenamento jurídico internacional e das legislações nacionais”, avaliou o diplomata e poeta equatoriano Ramon Torres Galarza. “As corporações têm mais e melhores direitos que os Estados, que as sociedades, que os seres humanos e que a natureza”, completou Galarza

Por fim, Jean Jacques Kourliandsky, lembrou que a crise atual não está somente na América Latina, estamos vivenciando uma crise universal da democracia. “Devemos relegitimar os partidos políticos como atores genuínos. Também reabilitar os diálogos entre os partidos e reconstruir a sociedade”, disse. “Não há democracia sem limites que definam o que é o coletivo”, concluiu o diretor do Observatorio América Latina de la Fondation Jean-Jaurès, na França.

Compartilhe
compartilhamentos: