Publicado 9 de dezembro de 2020 11:41. última modificação 9 de dezembro de 2020 11:41.

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Segundo dia do webinário internacional da Fundação João Mangabeira teve painéis de discussão e balanço do evento

Democracia, identidades latino-americanas, desigualdade e pobreza foram os assuntos discutidos no segundo dia do webinário internacional realizado pela Fundação João Mangabeira (FJM), do Partido Socialista Brasileiro (PSB).

O terceiro painel do webinário, com o tema Democracia e Identidades Latinoamericanas, teve início na manhã do dia 4 de dezembro. Com mediação da Deputada Federal Lídice da Mata, do PSB-BA, o debate teve a participação de Amaral Arévalo, do Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos CLAM/UERJ; Diogenes Díaz Campos, docente da Universidad de Carabobo; e Anarella Velez, da Universidad Nacional Autónoma de Honduras.

O professor Diogenes Díaz Campos ressaltou em sua fala que não pode haver democracia com racismo, e não se pode discutir socialismos de qualquer tipo ou qualquer sobrenome se o racismo e discriminação existirem. “Devemos estabelecer um discurso identitário, de transformação política anti-imperialista e anti-neoliberal, e reconhecer que os espaços de luta são no campo da luta antipatriarcal, no campo da interseccionalidade, das lutas contra a pobreza, por moradias, e, sobretudo, pela defesa da natureza”, disse o professor da Universidad de Carabobo, na Venezuela.

Amaral Arévalo, do Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos CLAM/UERJ, alertou para que as esquerdas tradicionais não utilizem as demandas políticas de grupos identitários como uma situação unicamente estratégica para ganhar votos em uma campanha eleitoral específica. “É importante, quando no poder, manter as demandas desses grupos em suas agendas de mandatos, a fim de gerar políticas públicas para minorias e identidades marginalizadas”, disse Arévalo.

“Considero que as organizações políticas de esquerda das nossas nações devem assumir as demandas das trabalhadoras e dos trabalhadores da cultura, das mulheres organizadas, das feministas e das pessoas da comunidade LGBTQIA+, que compreendem e assumem seus papéis na urgente criação de trincheiras de resistência frente à exclusão, que se comprometem com a desconstrução da cultura patriarcal e hegemônica, e que se mantém em pé lutando contra as desigualdades”, completou Anarella Velez, da Universidad Nacional Autónoma de Honduras.

“Democracia, Desigualdad y Pobreza” foi o tema do quarto e último painel do webinário. Mediado pelo vice-presidente executivo da Fundación Alternativas, Diego Lopez Garrido, participaram Gabriela Roffinelli, docente da Universidad de Buenos Aires; Jaime Preciado Coronado, docente da Universidad de Guadalajara; Ariela Ruiz Caro, do Centro de Estudios y Promoción del Desarrollo; e Maria del Carmen Zabala, docente da Universidad de La Habana.

O mediador Diego Lopez Garrido iniciou o painel falando das crises de representação e do conceito de democracia do mundo ocidental, tanto na Europa quanto na América. “A fragmentação política cria uma crise de representação que corrói as bases do sistema político e produz uma grande instabilidade. Isso acaba criando uma desconfiança da população na própria democracia”, alertou o vice-presidente Executivo da Fundación Alternativas.

Gabriela Roffinelli lembrou que a América Latina é uma das regiões mais desiguais do planeta, e também uma região muito violenta, onde se assassinam trabalhadores, lideranças populares, campesinas e indígenas. “É importante a criação de uma força social que elabore projetos alternativos, solidários e internacionalistas, que pensem – ou repensem sobre – as bases de uma democracia ampla, que seja calcada sobre a defesa da população e da natureza, e não apenas da valorização do capital e dos negócios”, explicou a professora da Universidad de Buenos Aires

O professor da Universidad de Guadalajara, Jaime Preciado Coronado, fez uma explanação sobre as geopolíticas da desigualdade social e fez críticas ao colonialismo do poder, que impõe o racismo e o supremacismo branco, que exclui e faz com que morram mais afrodescendentes e indígenas. “Também é importante lembrar que a dominação patriarcal sobre os corpos se dá principalmente sobre os das mulheres e nos espaços domésticos e familiares. Morrem, assim, mais mulheres, e o problema afeta sobretudo os lugares mais pobres”, completou Coronado.

Ariela Ruiz Caro, do Centro de Estudios y Promoción del Desarrollo (desco), ressaltou que as pessoas, tanto no Peru quanto na América Latina, não se sentem representadas por nenhum partido político que existe no momento. “São nessas situações que podem surgir populismos extremistas. Estamos vivendo uma crise de regimes políticos e de representatividade dos partidos”, apontou Ariela.

Por sua vez, a docente de la Universidad de La Habana, Maria del Carmen Zabala, destrinchou o modelo de desenvolvimento das sociedades de consumo. “Tenho críticas às visões puramente economicistas. É necessário haver uma ética pela vida, e que coloque a possibilidade de inclusão social para todos os grupos da sociedade”, concluiu.

Ao final do webinário, houve uma sistematização dos debates, com o objetivo de realizar um balanço do que foram as atividades dos eventos. Vamos ter uma edição especial da revista Politika com todos os artigos produzidos.

“Nas discussões, pudemos chegar à conclusão de que os setores progressistas da América Latina e do mundo perderam um pouco a dimensão da democracia. Ao longo das últimas décadas, com o advento do neoliberalismo sobre a economia mundial, os setores progressistas reduziram a democracia à democracia eleitoral. Porém, devemos mais do que nunca trabalhar a democracia social e também econômica”, disse Ricardo Coutinho, presidente da Fundação João Mangabeira.

O professor da Universidade de São Paulo, Wagner Iglecias, destacou que a unidade latino-americana é muito fundamental e é uma tarefa importante para ser construída. “Negociarmos com potências como os Estados Unidos ou a China, separadamente, não é uma boa estratégia. O caminho é a união, respeitando nossas diferenças e as heterogeneidades de cada país. É preciso construir essa tarefa no que tange a essa inserção no mundo”, completou o professor.

Diego Lopez Garrido disse que na mesa presidida por ele, houve um consenso de que a pobreza, a indigência e a violência aumentaram na região. “Isso é consequência de uma crise da dívida pública, que tem sangrado a América Latina. É um elemento fundamental a se combater”, apontou o vice-presidente executivo da Fundación Alternativas, na Espanha

Ricardo Coutinho falou sobre o admirável resultado do webinário. “Juntar especialistas e ativistas de 13 países é algo absolutamente relevante. E conseguimos, todos, com muito sucesso, realizar esse webinário sobre a América Latina, que tem tantos desafios e problemas, e também é um continente que pulsa por renovação”, comemorou o presidente da Fundação João Mangabeira.

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