ARTIGO: Primeira atleta trans a disputar Olimpíadas precisou competir contra a Transfobia para chegar em Tóquio
Por Tathiane Aquino de Araújo
Laurel Hubbard, da Nova Zelândia, fez história ao entrar no ginásio do levantamento de peso nesta segunda-feira (2/8). Em menos de 20 minutos de aparição, infelizmente ela foi desclassificada, porém a sua presença em Tóquio já é suficiente para tornar esta edição olímpica emblemática.
Halterofilista, foi a primeira atleta trans a disputar o levantamento de peso feminino. Hubbard competiu na categoria acima de 87 quilos, que só ocorreu depois de a Federação Internacional da modalidade permitir.
Críticos argumentam que é injusta sua participação em uma categoria composta de mulheres cisgêneros, relatando que a estrutura física de Laurel é superior. Críticos também trouxeram o fato de ela ter tido treinamento físico pesado, antes da transição de gênero.
O Comitê Olímpico Internacional (COI) defendeu a entrada de Hubbard nos Jogos de Tóquio, com apoio de Richard Budgett, diretor médico do COI. Segundo ele, “mulheres trans são mulheres” e devem ser incluídas no esporte feminino. “A ciência ajudará, a experiência ajudará e o tempo ajudará”, disse.
Laurel Hubbard preencheu o requisito do Comitê Olímpico Internacional sobre o nível de testosterona no sangue – inferior a 100 nanogramas por decilitro de sangue.
Enquanto os conservadores, atrasados aos tempos, perseguem os direitos de nossa comunidade, Joe Biden, por meio de uma ordem executiva, publicada dia 20 de janeiro, suspendeu qualquer tipo de discriminação a transgêneros no país, o que inclui o esporte estudantil nos Estados Unidos.
Já no Brasil, o conservadorismo e a perseguição contra a pauta de identidade de gênero trazem tristes números. Segundo levantamento da agência Lupa, a primeira agência de fact-checking do Brasil, desde 2019, sete projetos que pretendem barrar a participação de atletas trans em competições esportivas foram apresentados na Câmara dos Deputados. Na esfera estadual, ao menos 13 proposições tramitam ou tramitaram em 11 assembleias legislativas: Amazonas, Distrito Federal, Espírito Santo, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo.
Todas as propostas defendem que o sexo biológico seja o único critério utilizado em competições esportivas, obrigando homens e mulheres trans a competirem pelo gênero com o qual não se identificam. Como punição, em caso de descumprimento, alguns textos propõem multas a federações, entidades e clubes, que podem ultrapassar R$ 200 mil.
A revista ‘Scientific American’ defendeu a participação de transgêneros em competições esportivas de escolas do segundo grau. A reportagem deixa claro que algumas meninas trans não são as únicas garotas, em alguns casos. com altos níveis de testosterona. Cerca de 10% das mulheres têm síndrome de ovários policísticos, que resulta em altos níveis de testosterona e elas não são proibidas de participar de competições.
A publicação cita a especialista Katrina Karkazis, que disse o seguinte: “Estudos sobre os níveis de testosterona em atletas não mostram nenhuma relação clara e consistente entre testosterona e desempenho atlético. Algumas vezes, a testosterona é associada a um melhor desempenho, mas outros estudos mostram um elo fraco, nenhum elo fraco ou nenhum elo. E outros mostram que a testosterona é associada a um pior desempenho”.
Esperamos mais do espírito olímpico do que as competições, esperamos inclusão e a união de todxs como rege a “Lex Máxima” do Movimento Olímpico, cujos princípios e regras importam conhecer e respeitar.
Tathiane Aquino de Araújo
Secretária Nacional do Segmento LGBTSOCIALISTA