Publicado 11 de fevereiro de 2025 08:00. última modificação 10 de fevereiro de 2025 18:58.

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Ciência tem gênero? As mulheres que desafiam as barreiras da ciência e tecnologia


Raissa Rossiter
No dia 11 de fevereiro, celebramos o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, uma data criada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2015. É um momento oportuno para refletirmos sobre a participação feminina na ciência e destacar iniciativas que possam inspirar e ampliar essa presença, especialmente em áreas historicamente dominadas por homens, como as Ciências Exatas, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM).

No Brasil, as mulheres representam quase metade das pesquisadoras, mas esse aparente equilíbrio esconde uma realidade desigual: elas ainda são minoria nas áreas mais prestigiadas da ciência. A desigualdade de gênero persiste, principalmente em campos como a Tecnologia, Engenharia e Matemática, onde as mulheres são sistematicamente excluídas. Segundo dados recentes, apesar do aumento da presença feminina nas universidades, observa-se uma queda significativa na participação das mulheres conforme as carreiras avançam. Elas representam apenas 34% dos docentes nas pós-graduações. Esse número diminui ainda mais à medida que se sobe na hierarquia acadêmica e científica, fenômeno conhecido como “efeito tesoura” que evidencia as barreiras estruturais que afastam as meninas da ciência desde cedo.

Mas a luta pela equidade não é impossível. Algumas iniciativas têm mostrado que avançar é possível quando há políticas públicas e programas de incentivo que combatam essas desigualdades. Um exemplo global vem da China, com a jovem engenheira Luo Fuli, que tem se destacado no setor de inteligência artificial. Ela é um exemplo claro de como, quando as oportunidades estão disponíveis, as mulheres podem ocupar espaços de liderança na tecnologia. O caso de Luo desafia a ideia de que a tecnologia é um território exclusivamente masculino.

No Brasil, a recente sanção da Lei Mães Cientistas, proposta pela deputada Talíria Petrone (PSOL/RJ), é uma vitória importante. A nova legislação amplia para no mínimo 180 dias o prazo para que pesquisadoras mães possam concluir seus estudos e pesquisas. Isso é fundamental em um país onde a carga do cuidado recai majoritariamente sobre as mulheres, o que frequentemente as impede de continuar suas trajetórias acadêmicas. A Lei Mães Cientistas abre uma porta para que mais mulheres permaneçam na ciência, contribuindo com inovação e conhecimento.

Outro exemplo significativo é o Projeto Meninas.comp, da Universidade de Brasília (UnB), que há 14 anos vem incentivando meninas a ingressarem na Computação. Esse campo, como tantos outros, é historicamente dominado por homens, mas iniciativas como o Meninas.comp têm quebrado essas barreiras, oferecendo educação, mentoria e oportunidades para jovens que, de outra forma, poderiam nunca considerar essa carreira.

No entanto, ainda estamos longe de alcançar a equidade de gênero na ciência. Dados apontam que as mulheres representam apenas 18% dos cargos de liderança nas engenharias, e em muitas áreas da ciência a desigualdade de gênero é estrutural, refletindo a escassez de políticas públicas eficazes para enfrentar o problema. A realidade é clara: se quisermos um futuro de inovação genuína e inclusiva, é preciso garantir que as mulheres estejam no centro da transformação científica e tecnológica.

Os exemplos de Luo Fuli, a Lei Mães Cientistas e o Meninas.comp mostram que, embora o caminho para a igualdade seja desafiador, ele é possível. Para avanços mais significativos, é essencial que não se dependa apenas de iniciativas isoladas, mas que haja um compromisso concreto do Estado e da sociedade com políticas públicas que efetivamente combatam as barreiras de gênero na ciência. Precisamos garantir mais acesso, mais apoio e mais oportunidades para que as mulheres possam prosperar nas ciências exatas e tecnológicas. Só assim conseguiremos, de fato, construir um futuro de inovação justa e inclusiva.

Raissa Rossiter é socióloga pela UFPE, mestra e PhD em Administração pela University of Bradford School of Management, Reino Unido. É especialista e ativista pelos direitos das mulheres. É coordenadora da Coalizão Nacional de Mulheres no DF. Exerceu posições de liderança como gestora nacional em sua carreira no Sebrae e no Sistema Indústria. Foi a primeira mulher a dirigir no Brasil a ONG global humanitária World Vision. Atuou como Secretária-Adjunta de Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos e como Subsecretária de Políticas para Mulheres do Distrito Federal. Filiada ao PSB no DF desde 2013, foi candidata a Deputada Distrital nas eleições de 2018 e 2022.

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