Diretora da FJM, Amanda Sobreira é mediadora de debate sobre juros promovido pelo Observatório da Democracia
Economistas e sindicalistas de diversas entidades partidárias discutiram, no dia 31 de julho, o possível boicote do Banco Central à retomada do crescimento do país, em vista da demora para o corte dos juros pela entidade e a importância da sua queda para que a economia decole. Com o título de “Contra os juros altos, pelo desenvolvimento”, o encontro reuniu o professor da Universidade de Brasília José Luís Oreiro, pela Fundação João Mangabeira; o professor Nilson Araújo, pelo Instituto Cláudio Campos; o vice-presidente da Central dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Brasil, Rene Vicente, pela Fundação Maurício Grabois, e o economista Virgílio Guimarães, pela Fundação Perseu Abramo. A mediação foi feita por Amanda Sobreira, advogada, diretora de estudos e pesquisas da Fundação João Mangabeira e integrante do Diretório Nacional do PSB.
José Oreiro abriu o debate falando sobre o motivo de a inflação ter atingido níveis tão altos, que se deu pela elevação dos preços dos alimentos, energia e insumos industriais, consequência dos eventos da pandemia de Covid-19 e da guerra entre Rússia e Ucrânia. “Essa inflação foi um fenômeno transitório, é um fenômeno causado por um choque de oferta.” Os bancos centrais no mundo inteiro reagiram aumentando juros. Mas, o que chama a atenção, no caso brasileiro, é que nós fomos os primeiros a aumentar os juros e aumentamos muito, mais do que os outros bancos centrais”, pontuou o economista.
Nesse mesmo sentido, ele prosseguiu questionando o motivo de se manter a Selic tão alta, não tendo justificativa, uma vez que a inflação recuou. “Então, o mais provável fator que explica a relutância irracional do Banco Central de manter a taxa de juros em 13,75% ao ano, ao longo dos últimos seis meses, é o fato de que o presidente do Banco Central quer fazer tudo que estiver ao alcance dele para atrapalhar o governo Lula. Nós sabemos que a taxa de juros tem um impacto muito relevante sobre o nível de atividade econômica. Ela impacta as decisões de investimento do setor privado, ela impacta as decisões de consumo, e se ela for mantida alta muito tempo vai gerar uma enorme sobrevalorização do câmbio”, explicou Oreiro.
Já o professor e economista Nilson Araújo de Souza afirmou que a elevada taxa de juros é, sem dúvida, o principal entrave à retomada sustentável do crescimento econômico. “As pessoas ficam imaginando que a taxa de juros está estacionada em 13,75%. Ela não está estacionada, há um ano está estacionada em termos nominais, só que nesse período a inflação caiu de 9,67% para 3,16%. Então, o que ocorreu, em termos reais, é que antes estava perto de 4%, e agora está em 10%. Além da violência e da rapidez com que foi feito isso, aumentou violentamente em termos reais. Se a taxa de juros está alta, eu não vou aplicar na minha empresa, vou aplicar no mercado financeiro. Aí a atividade produtiva é sacrificada. O consumidor é igual. Tem mais de 6 milhões de empresas, micro, pequenas e médias empresas, que estão com problema de dívida. Isso arrasa a economia e impede a economia de crescer”, concluiu.
O sindicalista Rene Vicente ressaltou que as centrais sindicais estão batalhando para a derrubada não só da taxa como também de Campos Neto do comando do Banco Central. “Uma batalha que nós, das centrais sindicais, temos travado de maneira unitária é a batalha pela redução dos juros. O principal desafio é explicar para a população, para os trabalhadores e trabalhadoras, o que significa uma taxa de juros de 13,75% ao ano. O lema da nossa campanha é: poucos lucram e muitos perdem. Os exemplos estão aí: o gasto do governo com a dívida mais que dobrou, só no ano passado foram 617 bilhões de reais, dinheiro que era para ser investido em saúde, educação, moradia”, disse Vicente.
Para o economista Virgílio Guimarães, as atuais taxas de juros praticadas pelo Banco Central são imorais, e que é preciso ter uma taxa de juros “civilizada” para o país aumentar os investimentos. “Nós temos que chegar a uma taxa de juro substancialmente menor. Precisamos colocar no seu devido lugar a taxa de juros, vamos corrigir esse absurdo”, defendeu.
O que ficou claro e unânime entre os debatedores é que a queda dos juros é muito mais uma questão política do que econômica no atual governo e só a substituição do atual presidente pode trazer esse equilíbrio que o país tanto busca.