Engajamento é emoção, utilidade e realidade
Conteúdos com humanidade, monitoramento de redes e interação offline para publicação online são fundamentais, diz especialista
Para engajar nas redes é preciso sair da bolha política e ver as redes em geral, observando as tendências e técnicas do Tik Tok (4 Ts), com conteúdos que comuniquem emoção, humanidade, realidade e utilidade. O ensinamento é de Sérgio Denicoli, verdadeiro detector do sentimento das redes, que sugeriu ações e estratégias na sexta aula do curso de formação política do PSB, ‘Criatividade: Marcas e Marketing do PSB/Eleições 2024 – Comunicação, Conteúdo e Práticas’, nesta quinta-feira (9), via You Tube e Zoom.
Jornalista e publicitário, ele é pós-doutor em Comunicação, pesquisador da Universidade do Minho, em Portugal, país onde reside, CEO da AP Exata inteligência em Comunicação Digital e colunista do Estadão.
Acompanhe os principais momentos da aula, em formato ping-pong.
Como ocorre o engajamento?
“Com conteúdos que exprimam sentimentos comuns (amor mãe/filho); memória e nostalgia (antes e depois, com exemplo de vídeo tocante de moça mostrando como era a vida antes da tragédia do Rio Grande do Sul e agora) e conteúdo útil (dicas de carreira e estudo; mostrar pratos típicos de uma região).”
Isso basta para prender a atenção? “Importante prender a atenção nos primeiros três segundos. Um exemplo é um vídeo do Tik Tok que mostra um pai conhecendo o jovem que recebeu o coração de seu filho falecido, após a doação do órgão.”
Como detectar os sentimentos das redes?
“As redes têm momentos, que vão mudando. Não adianta ir contra, fazer coisas descasadas. Agora é o cavalo Caramelo, que foi resgatado. Pode-se mostrar projetos de proteção animal e para evitar catástrofes ambientais. Para isso, é necessário monitorar as redes diariamente, para verificar a lógica da internet, ver as estratégias dos adversários. Há ferramentas para esse fim, mas nada melhor que pessoas atentas.”
“As redes mostram tendências, repetições, que permitem identificar padrões para antecipar cenários, elaborar narrativas, atenuar negatividades e surfar no positivo. É preciso olhar as redes dos jornais locais e responder, informar.”
É possível usar humor nas redes? “Humor nas redes é coisa séria. Ganchos leves e ironia podem diferenciar um conteúdo em um oceano ilimitado de publicações. Um exemplo de sucesso é João Campos. Prova disso é um vídeo em que uma eleitora dá bom dia e fala coisas bem-humoradas sobre ele.”
O que as pessoas querem ver e ouvir nas redes? Não querem ver nem ouvir, querem falar. Portanto, se você publicar o que elas gostariam de falar, vão compartilhar.”
“Cito o caso das ministra do Planejamento, Simone Tebet, que recentemente deu munição para a oposição, ao declarar em entrevista que os prefeitos das cidades do Rio Grande do Sul não sabiam o montante dos recursos que iam precisar e a oposição disse que o governo não sabia o que ia oferecer. Ela devia voltar às redes e explicar, mas não o fez.”
Que mudanças você aponta nas redes?“Declínio da era Facebook, ascensão das redes de conteúdo e experiência em comum vindo do mundo físico, off line. As pessoas estão em microbolhas. Tem que haver campanha nas ruas, ter material de marketing interagindo no offline para publicação online. Por exemplo, mostrar uma praça nova, feita na sua gestão, levar ações de saúde para lá e conversar com as pessoas e postar. Ou por uma câmera na bicicleta e apresentar coisas boas ou ruins, se for oposição.”
De que forma são entregues os posts? “Houve mudança nisso também. Hoje é o algoritmo que escolhe o que você vai ver porque ele sabe quem você é, seus gostos. É a web semântica.”
O que são personas? Hoje, a rede é formada por personas, isto é, grupos de pessoas com interesses comuns. Quais personas existem na cidade de vocês? De novo, observem as redes. Para campanha de vereadores é mais fácil, já têm suas bandeiras. Para a majoritária é mais difícil porque fala a muitos públicos e por isso tem que variar os conteúdos.
É importante aprender a usar os dados? Há muitos dados disponíveis para análise de sentimentos das pessoas, para medir avaliação das gestões, em tempo real (medo, raiva, confiança, surpresa) e é importante. Minha empresa fez essa análise na eleição Lula/Bolsonaro e os resultados eram praticamente iguais, até que na véspera do dia da eleição, houve o episódio da deputada Carla Zambelli e aí notou-se mínima diferença pró-Lula.”
“Em outro trabalho, detectamos pessoas propensas a suicídio na Espanha, 700 indivíduos, e a empresa enviou mensagens para atendimento delas. Mostro um vídeo sobre o assunto que foi finalista do prêmio Code of Hope.”
A coordenadora de Comunicação da Fundação João Mangabeira, Luciana Capiberibe, mediou a aula e sanou com Denicoli algumas dúvidas:
Dê dicas para iniciantes engajarem nas redes Resiliência, equilíbrio para o ambiente hostil das redes. Diga por que está entrando para a política e, novamente, atue offline e poste online. É preciso engajar para ter narrativa dominante, pautar o adversário. Estamos na era da economia da atenção, temos que nos destacar.
Como quebrar a bolha bolsonarista em Santa Catarina? Mostrando soluções alternativas para a cidade.”
Domingos Leonelli, secretário de Formação do PSB, ressaltou a importância de firmar posição, sem querer que isso signifique polarizar, acrescentando que a crise no Rio Grande do Sul, por exemplo, não é o mercado que resolverá e, sim, fortes investimentos do Estado.
Como lidar com as fake news? Não devemos usar fake news. Numa campanha, a verdade é suficiente. Muitas vezes a pessoa sabe que é mentira, mas aquilo vai ao encontro do que pensa e ela compartilha, é uma negação da realidade. Vai ter gente que não adianta tentar convencer do contrário, mas outras, sim.”
A aula teve 160 participantes, pré-candidatos à vereança e prefeituras, além de assessores, de A a Z do Brasil.
PRÓXIMA AULA: A próxima aula será em 16 de maio, às 19 horas, com o tema ’Informações para internet – textos e estratégias para portais’, com Luciana Panke, professora do Departamento de Comunicação e da Pós-Graduação em Comunicação da UFPR, reconhecida como uma das 12 mulheres mais influentes da comunicação política da América Latina pelo Victory Awards 2016.
No total, o curso abrange oito exposições de uma hora e meia cada, com meia hora para debate, realizadas por especialistas nas áreas abordadas. As transmissões, com duração total de 2 horas – 1h30 horas para o/a palestrante e meia hora para debate – serão feitas sempre às quintas-feiras, às 19h, até 23 de maio.
Cada especialista enviará um texto de quatro páginas sobre o tema abordado para que seja feita uma publicação como resultado da formação para publicação de um caderno pelo PSB e pela FJM, conjuntamente.
CONFIRA A ÙLTIMA AULA:
23/05 (quinta-feira), 19h – Diversidade: o bônus eleitoral de pertencer a movimentos populares e defender causas identitárias
Renato Meirelles – Presidente do Instituto de Pesquisa Locomotiva. Foi fundador e presidente do Data Favela e do Data Popular, conduzindo diversos estudos sobre o comportamento do consumidor emergente brasileiro. Considerado um dos maiores especialistas em consumo e opinião pública do país, é autor do livro ‘Um País chamado Favela’, em parceria com Celso Athayde. Renato Meirelles é palestrante e colunista.