Negritude Socialista Brasileira discute segurança pública com líderes comunitárias
Terceiro ciclo de palestras trouxe o olhar feminino para questões que envolvem violência policial, ausência do poder público, escuta da comunidade e injusta divisão de classes
A terceira live da série sobre o Mapa da Violência, que discute a segurança pública contra negros, realizada pela Negritude Socialista Brasileira-SP (NSB-SP), em 4 de novembro, contou com a presença de importantes líderes comunitárias de favelas de São Paulo. Participaram Mércia Ribeiro, líder comunitária de Heliópolis e integrante da União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região (UNAS); Rose Ferreira, líder comunitária da Capadócia e militante por moradia desde 2010, e Luiza de Guaianazes, ou mãe Luiza, como é mais conhecida na região, presidente da ONG Orgulho de uma Raça e zeladora de santo, com mediação de Arlindo Felipe Junior, secretário geral da NSB-SP.
A live expôs a ponta do problema e quem mais sofre com a truculência policial de perto, cotidianamente.
Mércia Ribeiro abriu o debate falando da importância de não se olhar para a segurança pública por um só viés e de haver uma justiça restaurativa. “Não estamos pedindo nada demais. O medo é coletivo quando os policiais entram na comunidade. É preciso mudar paradigmas e ter mais empatia. Eles tratam assim os moradores da burguesia?”, indagou Mércia a fim de levar os participantes da live a essa reflexão necessária.
Para Rose, o ponto de partida da mudança teria que ser a divisão de classes e políticas continuadas que atendam quem realmente precisa. “O ponto de partida é colocar todos em situação de igualdade, com políticas continuadas para fazer acontecer lá na ponta, pois essas pessoas precisam dessas mudanças. O problema é que, a partir do momento que se elege, o político esquece do povo das periferias”, lembrou.
Ela pensa que o diálogo também é muito importante para promover mudanças, principalmente quando se trata do grave problema da falta de moradia. “O diálogo se faz necessário para se entender o que realmente acontece. Dialogar com as lideranças e associações é essencial para políticas públicas mais eficientes e que realmente resolvam o problema”.
Rose exemplificou como a atitude gera boas ações, contando sobre o diálogo estabelecido com a chefia da Guarda Municipal em uma operação de despejo. “Eles precisam entender que as pessoas vão para as periferias em busca de moradia, de um lugar para viver em paz e com dignidade. O resultado foi excelente e eficaz na tratativa do problema”.
Indagadas pelo mediador Arlindo Jr. sobre o resultado efetivo em se aumentar a presença feminina em assuntos de segurança pública, as participantes foram totalmente a favor, pois a liderança comunitária é feita por mulheres e tem ótimos resultados. “Precisamos de mais mulheres pensando e executando segurança pública. Mulheres já, mulheres para ontem”, disse Mércia.
Já Rose lembrou que a mulher acredita, encoraja e dá o exemplo, tudo que é preciso para fazer a mudança acontecer. “Temos que ter mais mulheres nos conselhos participativos. Nós, líderes comunitárias, quase não temos apoio ou assistência, somos nós por nós mesmas. Precisamos de amparo e encorajamento por parte da sociedade e governantes”, concluiu.
Por motivos de falha na conexão instável, a mãe Luiza não conseguiu participar do debate.