Publicado 18 de janeiro de 2022 14:30. última modificação 18 de janeiro de 2022 14:30.

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Opinião

O MOVIMENTO SINDICAL: breves considerações

Francisco das Chagas Firmino do Nascimento1

Introdução 

O presente texto apresenta elementos para melhor compreender o momento em que o movimento sindical se encontra e indica algumas tarefas. Antes porém, faz breves considerações sobre as ideologias e o mundo do trabalho. 

1. Cenário I – Ideologias: um voo rasante 

O socialismo real, inaugurado em 1917, ao desprezar as liberdades individuais se distanciou do povo e não compreendendo que sem ele não se governa, esgotou-se. 

A social-democracia, firmada no pós segunda guerra mundial, ao se curvar às empresas transnacionais e ao capital financeiro, distanciou-se do Estado de bem-estar-social perdendo apoio do povo. 

O neoliberalismo, fruto da fragilidade desses dois modelos surge no final do século XX, e com ele, a referência para se governar passa definitivamente para as mãos dos que detêm o capital. 

A direita e a extrema-direita em processo de afirmação, ancorada em três pilares: o liberalismo para as relações econômicas e o mundo do trabalho; as armas para o controle do Estado e, a pauta de costumes e os dogmas religiosos para a mobilização das camadas populares, diferente do neoliberalismo, tem na sua formulação a mobilização como parte da sua estratégia. Significa portanto, que ela ainda tem muito fôlego. 

A Pauta de Costumes e os dogmas funcionam com uma cortina de fumaça letárgica para esconder a degradação da natureza, perda de direitos, exploração, miséria, entre tantos outros malefícios (vide governo Trump e Bolsonaro). 

Feitas essas breves considerações, vamos ao mundo do trabalho. 

2. Cenário II – O mundo do trabalho 

Já consolidado o modelo neo-liberal e com significativo avanço da direita e da extrema-direita, o século XXI consolida e populariza as tecnologias de comunicação e informática deslocando o trabalho material para um plano secundário. Desse modo, o trabalho IMATERIAL passa a determinar os meios de produção e serviços. 

O trabalho imaterial, gerado pelas tecnologias, altera de maneira grandiosa as relações no mundo do trabalho, do homem com a natureza e entre os seres humanos. O trabalho material e imaterial, articulados e juntos, exige de nós, outros paradigmas e reflexões. A uberização é o exemplo mais escancarado desta relação. Outros exemplos como: a automação dos bancos, do agronegócio, dos serviços, etc., ilustram as afirmações acima. 

As tecnologias ao racionalizar e aumentar a produtividade deveriam melhorar as condições de vida e trabalho de todos e as nossas relações com o meio ambiente. Entretanto, por estar a serviço dos 

1 Ex dirigente Nacional da CNTE e CTB, é Economista e Mestre em Educação pela UnB

governos neoliberais, ao contrário, são utilizadas para chantagear (por meio de demissões) e reduzir direitos com a flexibilização das leis trabalhistas. 

3. Cenário III – As forças políticas no Brasil 

Em 2021, no Brasil, os meios de comunicação; os Poderes Executivo, Legislativo e o Judiciário, embora com pautas específicas, no que diz respeito às políticas sociais e no mundo do trabalho se unem no que determina o modelo neoliberal. 

Os meios de comunicação atuam no sentido de difundir, induzir e redefinir conceitos e ideologias; o poder executivo cumpre o papel de criar crises e cortinas de fumaça sustentado na pauta de costumes e dogmas. A conjugação desses dois – meios de comunicação e poder executivo -, produzem a distração necessária para o poder legislativo legalizar a pauta dos neoliberais invertendo e “legitimando” novos valores, desta feita, contrários aos direitos conquistados a duras penas pelos setores populares. 

Ao mesmo tempo, as organizações sociais, em particular o movimento sindical, alcança o seu maior declínio se comparado com as quatro décadas anteriores e, fragilizado, sofre ataques nunca vistos. 

4. Cenário IV – O movimento sindical no Brasil 

Três fenômenos devem ser considerados para melhor compreender o que levou o movimento sindical ao patamar em que hoje se encontra: 1. o fim da ilusão inflacionária; 2. a reconfiguração do mundo do trabalho e, 3. o distanciamento da sua natureza de classe. 

A altíssima inflação presente no Brasil nas décadas de 1970, 1980, até o plano real (1994) era um componente importante para as mobilizações das categorias. A alta inflação proporciona aos sindicatos ao final de cada greve, no mínimo, recompor as perdas decorrentes do período anterior e com isso, sempre se tinha aumento nos salários, o que na verdade era uma ilusão. Com o fim da inflação esse mascaramento deixa de existir, o ganho ou a perda passa a ter o seu tamanho real e, por incompreensão desse fenômeno, uma parcela significativa das categorias ao não ver aumentos no seu contracheque deixou de participar das mobilizações. 

As novas tecnologias da informação e comunicação além de extinguir profissões e criar outras, reconfigurou o modo de negociação entre os sindicatos e o patronato. As negociações passam a ter novos componentes, tais como: produtividade; qualificação; multi-funções; flexibilização de horário e salário; terceirizados no mesmo espaço, etc.,. No setor público os comissionados; os terceirizados; as privatizações, as parcerias público-privadas, trazem novas demandas para as mesas de negociação entre o governo e os sindicatos dos Servidores Públicos. Além disso, as redes sociais e o acesso à internet mudaram e mudam constantemente o modo de comunicação na vida em sociedade. A tão eficiente comunicação feita por meio do jornal da categoria e do carro de som, passam de certa maneira, a serem secundarizados. O “on-line” e o “presente constante” passam a determinar as ações do sindicato. 

O fim da ilusão inflacionária e o advento das novas tecnologias e redes sociais colocaram de certa maneira os dirigentes sindicais na defensiva. Estes passam a concentrar suas lutas na defesa e preservação da própria categoria e, ao fazer isso, deslocam a natureza classista dos sindicatos para a corporativista e, ao perder o foco das grandes lutas, paulatinamente, começam a perder o apoio da população em geral.

Nesse novo mundo do trabalho determinado por algoritmos, plataformas digitais e redes sociais os neoliberais cantam em verso e prosa. Vencemos! _ Isso é verdade? Nós afirmamos. Não! 

5. O que fazer? 

Vivemos tempos difíceis, é verdade. Contudo, no Parlamento embora em minoria, temos deputados fazendo resistência; no executivo Estadual e municipal também há formas diferentes de se governar. Destacamos, os alicerces do movimento sindical estão intactos e por mais que as tecnologias avancem, quem cria e as controla são as mãos e a inteligência humana. 

Há que se buscar e reinventar a luta de classe. E a história tem mostrado que sem a classe trabalhadora os governos não se sustentam. Portanto, é vital e necessário disputar outra alternativa para o país, pois sabemos que é na escuridão da noite que brota a luz do amanhecer. 

Assim, da mesma forma que um navio em meio a tempestade requer do timoneiro bom senso, cautela, sabedoria e coragem para chegar a um porto seguro – apontar, pavimentar e fazer caminhos para um bom combate levando em conta as especificidades das categorias sem perder de vista as grandes lutas é a nossa tarefa. 

Das várias tarefas e ações exigidas pela conjuntura, a mais urgente é derrotar o governo Bolsonaro e disputar um outro projeto de sociedade com a população. Nessa questão específica, dialogar e se necessário, fazer alianças táticas com outras forças que se opõem ao governo, diria, ser necessário. Pois, somente com a derrota deste governo é possível semear em terreno mais fértil, e as razões disso todos sabemos. 

Ao mesmo tempo, impor uma pauta sindical centrada na defesa do emprego e dos salários, de condições dignas de trabalho, dos acordos coletivos e da legitimidade dos sindicatos como representantes dos interesses coletivos dos trabalhadores, constitui um desafio central para o sindicalismo nesse contexto de pandemia covid-19 e governo de extrema direita, tristemente eleito. 

6. Conclusão: 

A intenção desse texto é fazer uma boa provocação com o objetivo de abrir um debate interno sobre o movimento sindical no nosso Partido. Sabemos que cada item abordado no texto, por si só, já é objeto de um texto específico. Sem contar que deixamos de fora a questão ambiental; a desvalorização da ciência, educação e da cultura; a temática de gênero e raça; a influência das religiões no contexto político; a pandemia covid-19, entre outros ligados ao movimento sindical. Mesmo assim, espero contribuir para aprofundar as discussões e ajudar na construção de ações para o Partido e para um Brasil melhor, mais democrático e mais justo.

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