Publicado 11 de novembro de 2024 16:16. última modificação 11 de novembro de 2024 16:16.

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PSB está na vanguarda do Socialismo Criativo –Domingos Leonelli fala sobre criatividade, economiae socialismo

Em entrevista à web rádio FMJM, Domingos Leonelli falou sobre economia criativa. Ele é publicitário, foi deputado federal constituinte pelo Estado da Bahia, hoje é secretário nacional de formação do Partido Socialista Brasileiro, dedicando-se ao estudo da economia criativa, que foi adotada pelo partido em seu processo de Autorreforma. Leonelli fala sobre a nova ordem econômica global, dominada pelas Big Techs; lembra que o primeiro ministro inglês Tony Blair valorizou o rock’n’roll como patrimônio intangível Inglês de grande valor econômico; explica o socialismo criativo e fala sobre a gestão do prefeito João Campos, de Recife, que está usando a tecnologia de forma criativa e eficiente para governar aquela cidade.

FJM – Leonelli, você vem cada vez mais se aprofundando no tema da economia criativa no Brasil. Como foi que começou essa tua relação com a economia criativa?

Olha, na verdade, isso começou mais de 10 anos atrás, uns 12 anos atrás, num contato com o atual reitor da Universidade Federal da Bahia, professor Paulo Miguez, que auxiliou Gilberto Gil na introdução do tema da economia criativa na área da cultura no Brasil.

Desde então, eu venho conversando com vários especialistas e passei a ler e a compreender um pouco que a economia criativa corresponde à mudança. Uma transformação do paradigma mundial econômico. Um paradigma que se baseava na formação de capital através de investimentos em capital fixo: terra, máquinas, matéria-prima, etc., para se transformar numa economia, que cada vez mais, tanto o capital social, como o capital financeiro e o capital industrial, são formados mais por criatividade, por elementos imateriais, intangíveis. São a pesquisa, o conhecimento, a informação, os softwares. É o que comanda a economia mundial hoje. O protagonismo da economia mundial, que há dois ou três séculos vinha sendo da indústria que comandava, que liderava a economia, passou a ser da economia do conhecimento, da economia criativa. Essa mudança de paradigma, eu acho que precisava nos alcançar também, a nós socialistas.

Foi por isso que eu tenho feito vários trabalhos a esse respeito e até que em 2016 eu coordenei o Plano Estratégico da Economia Criativa de São Paulo, quando o Márcio França era secretário de Ciência e Tecnologia do Governo de São Paulo, e o então governador Alckmin era o governador. Nós preparamos o primeiro plano estratégico da economia criativa de São Paulo. E a partir daí foi um processo que vem crescendo, até que a Autorreforma do PSB, liderada pelo nosso presidente Carlos Siqueira, incorporou essa ideia para atualizar o programa do PSB. E chegamos até o conceito de socialismo criativo.

FJM – A economia criativa é isso que você explicou, se baseia na criatividade, inovação, talento, naquilo que é intangível. E o que é o socialismo criativo?

O socialismo criativo é um conceito desenvolvido pelo nosso partido, pelo PSB, e ele corresponde, eu creio, a uma nova etapa do socialismo, do socialismo na era do conhecimento, do socialismo que assumiu esse novo paradigma, que já se consolidou na China, que é o país socialista que mais investe em tecnologia no mundo. É o país que mais investe em educação, que mais tem a sua economia vinculada à economia do conhecimento sofisticadíssima, e corresponde também a projetos socialistas dos países ocidentais, como a Espanha. Portugal, por exemplo, teve a sua economia salva pela economia criativa.

Hoje Portugal é uma nação criativa. A própria Inglaterra, ela mudou o seu paradigma de desenvolvimento para focar e para ter uma estratégia baseada na economia criativa. O ex- primeiro ministro Tony Blair já dizia, em 1997, que o rock’n’roll, que é um fator da economia criativa, a música, um dos elementos, rendia mais divisas para a Inglaterra do que a siderurgia, e a Inglaterra era a campeã siderúrgica internacional.

Mas, no entanto, essa mudança radical no modo de produção nos levou a compreender que o socialismo também precisava ser criativo. Se o capitalismo, em 100 anos, desenvolveu uma criatividade que, sem dúvida nenhuma, foi muito bem sucedida, o socialismo, para superar o capitalismo, precisa também se transformar no socialismo criativo. O socialismo criativo é uma consequência do capitalismo criativo, digamos assim, como a ideia do socialismo era uma consequência do capitalismo, na visão de Karl Marx.

FJM – E como é que essa questão do socialismo criativo, da economia criativa, se vincula ou se relaciona com esse capitalismo de plataformas que a gente está vivendo hoje, onde a gente tem um domínio das big techs nessa questão dos meios de comunicação, mas que vai muito além disso, porque também entra na seara do trabalho, com a terceirização do trabalho por meio de plataformização e da precarização do trabalho. Como é que essas coisas se relacionam, se aproximam e se distanciam?

O socialismo criativo deve ser e precisa ser uma força crítica a esse processo. Quer dizer, ao invés da evolução tecnológica ter se transformado num fator de democratização econômica da sociedade, de socializar mais os bens, de ampliar o bem-estar social da humanidade, ele se transformou numa grande fonte de concentração de renda.

Uma grande referência de concentração de renda, exatamente é o que foi capturado por uma simbiose do capital financeiro com esse capital intangível da tecnologia. Esse capital financeiro capturou as rédeas do capitalismo e provocou uma grande concentração e logo uma grande desigualdade entre países, entre classes, etc. E é isso que o socialismo criativo
se dispõe a ser: uma visão crítica desse padrão de economia criativa que provoca tantas desigualdades.

Nós acreditamos que o socialismo criativo deve se constituir, como diz a tese 451 do nosso programa, na dimensão humana do desenvolvimento das forças produtivas e da revolução tecnológica e deve valorizar todas as formas de vida presentes na Terra. O socialismo do século XXI deve contribuir na perspectiva de um novo e mais amplo humanismo, capaz de reverter a ameaça do atual sistema ideológico e liberal capitalista. São tarefas do socialismo criativo desenvolver a criatividade, o empreendedorismo, o cooperativismo, ampliando os espaços de liberdade na sociedade e o bem-estar de todos.

Essa é a nossa visão do que deve ser o socialismo criativo: uma força crítica que o capitalismo tem na força da inovação tecnológica e no desenvolvimento da economia criativa, um modo de se reproduzir e se perpetuar. O socialismo criativo tem nessa mesma força da inovação tecnológica e da economia criativa, uma forma de alcançar uma sociedade igualitária em que o trabalho é libertado da exploração. Eu tenho a impressão que essa é uma das perspectivas mais avançadas do capitalismo, pelo que tem me dito Paulo Bracarense, nosso secretário de Relações Internacionais, que essa tese do socialismo criativo tem despertado muito interesse em vários partidos socialistas e ela representa realmente uma compreensão que o nosso partido teve, digamos assim, um insight, uma sacada que o nosso partido teve na compreensão do desenvolvimento econômico e social do século XXI.

FJM- O Paulo Bracarense, professor Paulo, esteve aqui conosco. Ele falou sobre uma reunião que vocês tiveram com representantes da Universidade de Lisboa, onde foi discutida essa questão do socialismo criativo. Que tipo de interação está acontecendo com o Partido Socialista Português e como é que você vê, como Secretário de Formação, a ampliação desse trabalho conjunto com Portugal? O que isso pode trazer aqui para o Partido Socialista Brasileiro e para o Brasil?

Portugal teve a sua economia muito impulsionada pela economia criativa. Pela adoção e pela insistência do governo em transformar isso numa estratégia, eles impulsionaram muito a pesquisa científica, a tecnologia, a tecnologia de comunicação, as artes, o cinema, a ligação entre a tecnologia e a cultura, que afinal é o que resulta da economia criativa. E esse professor, o professor Antônio Rodrigues, criou um conceito chamado comunidades criativas, que representa mais ou menos o que eram os nossos arranjos produtivos locais. Uma região, uma área, um distrito criativo em que várias atividades ligadas à economia criativa, desenvolvimento de software, programação, desenvolvimento de pesquisa científica, desenvolvimento cultural, cinema, audiovisual, música, artes visuais, etc., eles se
conectam e se transformam numa comunidade criativa.

E ele desenvolveu também um conceito de recriatividade, um conceito da criatividade revisitada, exatamente por esse aspecto de conexão entre os vários setores. É uma forma de ver a economia também onde se valoriza o que é local, onde se valoriza o que é regionalizado, não é uma cultura e uma forma de pensar um mundo globalizado, não é isso?
E nós desenvolvemos muito isso nos nossos capítulos do programa do partido, no capítulo referente às cidades criativas, onde nós dizemos, inclusive, que a cidade criativa é uma cidade que encontra soluções criativas para os seus problemas. Essa é a principal questão.

Esse novo modo de produzir recursos da tecnologia possibilita que as cidades venham a desenvolver soluções criativas também. Em Recife mesmo, o prefeito João Campos aplicou tecnologia na detecção de esgoto, no esgotamento sanitário, nas áreas de risco, etc., desenvolveu um problema chamado Conecta Recife, que permite ao cidadão se comunicar diretamente com a prefeitura. Tudo isso são soluções possíveis agora com o desenvolvimento tecnológico, mas que requerem criatividade.

Recife é uma das cidades mais criativas do Brasil, não só porque lá tem um polo de economia criativa muito forte, o primeiro polo de economia criativa do Brasil, o polo digital, como também nas prefeituras do PSB, passou a colocar a tecnologia a serviço da população.

Essa é uma forma criativa de se opor, inclusive, ao aproveitamento meramente lucrativo das atividades da economia criativa. Ela pode ampliar o seu impacto social, ampliar a sua utilidade para o conjunto da sociedade.

FJM Como está o avanço da ideia do Socialismo Criativo no PSB?

Isso está no início. Nosso Partido ainda não assimilou completamente essas teses. É uma coisa difícil, porque tem uma resistência cultural. Nós nos habituamos, ao longo dos últimos cem anos, a imaginar que a indústria manufatureira era o motor do desenvolvimento. A partir dos anos 90 para cá, as indústrias criativas e a própria economia criativa, passaram a representar as maiores empresas do mundo. Então, isso tem um significado muito grande
também para a sociedade.

Com as tecnologias digitais de comunicação e o fenômeno maravilhoso da internet, passamos a ter uma comunicação mais horizontal e formamos aquilo que Manuel Castells, o sociólogo espanhol, chama de sociedade em rede, e que é o que nós estamos vivendo hoje, para o bem e para o mal.

Para conhecer melhor o Socialismo criativo acesse publicações sobre o tema:

Livro Cidades Criativas – https://psb40.org.br/wp-content/uploads/2024/08/Cidades_Criativas.pdf
Livro Criatividade: comunicação, conteúdos e práticas – https://www.fjmangabeira.org.br/estante/criativade-psb/

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